Começo este post com essa notícia que virou primeira página em vários jornais do país.
Infelizmente essa manchete me fez lembrar da minha adolescência. Só se sensibiliza realmente quem já sentiu na pele como é ser humilhado diante da escola inteira, sem você ter feito absolutamente nada.
Fui vítima do bullying dos 12 aos 15 anos. Confesso que foi o pior período da minha vida. Eu sofria várias humilhações nas escolas que eu estudava, tanto que uma vez fui obrigada até a mudar o meu horário, por não aguentar os colegas da sala do outro horário, que faziam questão de me humilhar na frente da classe e da escola inteira. Mudei de escola tambem algumas vezes. E sempre que mudava de escola eu morria de medo. Porque achava que todo mundo olharia pra mim e encontraria algum motivo pra me zoarem até o momento em que eu não suportasse mais.
Duas ocasiões me traumatizaram de verdade. A primeira foi na 6ª série. Eu usava aparelho, óculos esquisito e um cabelo absurdamente armado, por nunca ter sido muito vaidosa. Mas as garotas, colegas minhas, diziam que os meninos se sentiam "atraídos" por mim, por eu ter tido um "bundão". Na época eu era mais encorpadinha, coisa da puberdade, então as garotas me avisavam sempre que eu tinha que tomar cuidado com os garotos mais safados. Eu era muito ingênua na época, não via maldade nas pessoas, então era como se eu tivesse ignorado o que as garotas me falaram. Pois bem. Dois, ou melhor, três garotos mais safados (inclusive um tinha saído de uma espécie de medida socio-educativa da Febem na época), me abordavam toda hora no intervalo com segundas intenções. Não era porque gostavam de mim. Nenhum garoto gostava de mim. Um dia eu cansei e deixei bem claro que queria que eles me deixassem em paz. Não adiantou. Começaram a me empurrar pra parede mais próxima, me xingaram, me humilharam me chamando de "bebezona, criancinha, menininha de merda" e outras barbaridades. Como se não bastasse isso, um deles ainda me bateu depois que eu reagi à todo aquele absurdo. Uns dias depois, um deles ainda me enchia o saco, puxando meu cabelo e me xingando cada vez que me via... Até me jogaram no capô de um carro, me forçando a beijar um deles e quase arrancando a minha roupa. Cheguei em casa chorando muito.
A segunda vez foi mais dolorida. Foi na 7ª série. No primeiro dia de aula na nova escola eu já era chamada de vários apelidinhos escrotos. Eu tinha apenas uma amiga lá que me protegia. Um garoto lá (o valentão da escola, por sinal) costumava me chamar de "Bob Marley", justamente por causa do meu cabelo longo e armado, mais parecia uns dreads estranhos. E na sala, numa aulda de matemática, a última aula do dia, era para correção de deveres de casa. E eu levantei pra mostrar o meu caderno para a professora. Já ia sentando na minha cadeira quando umas colegas minhas gritaram "NÃO!" e eu parei por um momento. E quando vi, minha cadeira estava toda cuspida. Os garotos que me zuavam riram muito alto, a classe inteira riu de mim. A professora nada fez, apenas dizia para que todos parassem de rir. O sinal tocou, todos fomos embora e eu fui correndo pra casa. Acho que nunca chorei tanto na minha vida como chorei naquele dia. Essa vez talvez tenha sido a mais dolorida porque eu já estava traumatizada da outra vez na 6ª série. E dessa vez tudo de novo... Imaginem o quanto eu estava cansada de sofrer tudo aquilo.
Tiveram muitas outras vezes, mas essas duas foram as mais traumáticas. Quase ninguém me defendia. Apenas umas poucas amigas sentavam junto comigo e procuravam me defender e ficar ao meu lado. Meus pais já cansaram de entrar em contato com diretor de escola, de mandar Boletim de Ocorrência pro Conselho Tutelar... Mas nada adiantou. Continuei sofrer bullying até o final do Ensino Fundamental. Tanto é que no Ensino Médio eu matava muita aula pra ficar longe da escola, porque tinha muito medo de que toda aquela humilhação daquele tempo voltasse a me atormentar. Eu não era bonita (e continuo não sendo bonita), não era popular nem nada. Eu era o alvo fácil do bullying. Então eu vivia com esse medo na cabeça.
Eu acredito que tudo isso acabou influenciando na minha personalidade atual. Já se passaram anos, mas infelizmente ainda não consigo esquecer. Não sai da minha cabeça o fato de que todos me chamavam de "feia". Apontaram demais na minha cara. Por isso minha auto-estima até hoje se mantém destruída.
Pode parecer exagero tudo o que eu disse, mas aconteceu mesmo. Talvez você, que está lendo esse meu post nunca tenha sofrido bullying na vida, nunca tenha sido apontado na escola e sido apelidado dos piores adjetivos que se pode ouvir. Acredite, eu não desejo isso nem pro meu pior inimigo. E não quero que ninguém sinta pena de mim. Não escrevi esse post para que as pessoas sintam pena de mim. Não quero imaginar que você tenha dito "nossa, coitada!" enquanto lia esse post. Pior que o bullying, só o sentimento de "pena".
E fica a pergunta: qual a graça disso tudo?
Stop bullying.
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