segunda-feira, 2 de julho de 2012

Tylenol.

Acordou com dor de cabeça. Tomou muito café forte, achando que seria por causa da falta de cafeína logo de manhã cedo, já que seu relógio biológico era maluco e acordou tarde naquele sábado. Porém sua dor de cabeça continuava a incomodá-la. E não conseguia achar o frasquinho de Tylenol.

Procurou por um Dorflex. Mas se tomasse um comprimido provavelmente ficaria com sono o dia inteiro, por ser também relaxante muscular, e precisava sair mais tarde. Desistiu da cartela amarela.

Procurou pela Dipirona Sódica. Mas odiava com todas as forças aquele remédio. O gosto amargo lhe dava náuseas. Argh.

Procurou por algum outro maldito analgésico. A dor de cabeça já lhe incomodava demais. E não sabia o porquê.

Aliás, ela sabia sim. Infelizmente ela sabia. O motivo não era nada bom: na sexta-feira anterior teve uma briga feia com o ex-noivo, que dizia que não aguentava mais os ciúmes e as paranóias dela. E que sim, estava com outra. Aqueles dois anos de namoro e cinco meses de noivado foram por água abaixo. Ela sempre achava que o noivo estava com outra. Mas engolia esse pensamento e procurava ignorar, focando apenas no noivado e no futuro feliz que teria junto com aquele que era o amor da sua vida. Até o dia que fuçou o celular do moço enquanto ele tomava um banho e viu mensagens suspeitas e com alto teor de infidelidade. Aquela não era a primeira vez. Ocorreram outras mensagens intrigantes e uma traição, que foi esquecida depois de um tempo e depois que voltaram. E agora ela estava vendo aquele maldito filme pela segunda vez. O moço mal saiu do banheiro e recebeu as primeiras saraivadas de fúria com o corpo mal enxuto e a toalha quase caindo da sua cintura.Voltou para sua casa depois de ter saído com os punhos doloridos e fechados de tanto esbofeteá-lo, apesar de ser menor e mais fraca do que ele. Não saiu de lá vitoriosa e muito menos orgulhosa daquela luta.

O saldo daquilo foi horrível para ela: lágrimas, muitas lágrimas, alguns vasos quebrados e calmantes. Acordou com a sua casa bagunçada por causa daquele caso de infidelidade dentro de um noivado que até então era feliz e sem nenhum problema. E a dor de cabeça de arremate.

Voltando para si, tentanto tirar aquela sexta-feira da cabeça, resolveu procurar o seu remedinho preferido naquela sala totalmente bagunçada. Esqueceu de arrumar, já que estava mais possessa do que nunca. Quebrou as coisas de casa e desabou na cama debrulhada em lágrimas até que adormecesse.

E um meio sorriso nos lábios veio junto com uma pontada no coração. Achou o frasquinho branco de Tylenol, jogado no canto da sala, junto com os estilhaços do porta-retrato de vidro, onde emoldurava a foto dela com o noivo, abraçados, com as alianças de noivado brilhantes em seus dedos.

Preferiu tomar a Dipirona.

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