Acordou com dor de cabeça. Tomou muito café forte, achando que seria por causa da falta de cafeína logo de manhã cedo, já que seu relógio biológico era maluco e acordou tarde naquele sábado. Porém sua dor de cabeça continuava a incomodá-la. E não conseguia achar o frasquinho de Tylenol.
Procurou por um Dorflex. Mas se tomasse um comprimido provavelmente ficaria com sono o dia inteiro, por ser também relaxante muscular, e precisava sair mais tarde. Desistiu da cartela amarela.
Procurou pela Dipirona Sódica. Mas odiava com todas as forças aquele remédio. O gosto amargo lhe dava náuseas. Argh.
Procurou por algum outro maldito analgésico. A dor de cabeça já lhe incomodava demais. E não sabia o porquê.
Aliás, ela sabia sim. Infelizmente ela sabia. O motivo não era nada bom: na sexta-feira anterior teve uma briga feia com o ex-noivo, que dizia que não aguentava mais os ciúmes e as paranóias dela. E que sim, estava com outra. Aqueles dois anos de namoro e cinco meses de noivado foram por água abaixo. Ela sempre achava que o noivo estava com outra. Mas engolia esse pensamento e procurava ignorar, focando apenas no noivado e no futuro feliz que teria junto com aquele que era o amor da sua vida. Até o dia que fuçou o celular do moço enquanto ele tomava um banho e viu mensagens suspeitas e com alto teor de infidelidade. Aquela não era a primeira vez. Ocorreram outras mensagens intrigantes e uma traição, que foi esquecida depois de um tempo e depois que voltaram. E agora ela estava vendo aquele maldito filme pela segunda vez. O moço mal saiu do banheiro e recebeu as primeiras saraivadas de fúria com o corpo mal enxuto e a toalha quase caindo da sua cintura.Voltou para sua casa depois de ter saído com os punhos doloridos e fechados de tanto esbofeteá-lo, apesar de ser menor e mais fraca do que ele. Não saiu de lá vitoriosa e muito menos orgulhosa daquela luta.
O saldo daquilo foi horrível para ela: lágrimas, muitas lágrimas, alguns vasos quebrados e calmantes. Acordou com a sua casa bagunçada por causa daquele caso de infidelidade dentro de um noivado que até então era feliz e sem nenhum problema. E a dor de cabeça de arremate.
Voltando para si, tentanto tirar aquela sexta-feira da cabeça, resolveu procurar o seu remedinho preferido naquela sala totalmente bagunçada. Esqueceu de arrumar, já que estava mais possessa do que nunca. Quebrou as coisas de casa e desabou na cama debrulhada em lágrimas até que adormecesse.
E um meio sorriso nos lábios veio junto com uma pontada no coração. Achou o frasquinho branco de Tylenol, jogado no canto da sala, junto com os estilhaços do porta-retrato de vidro, onde emoldurava a foto dela com o noivo, abraçados, com as alianças de noivado brilhantes em seus dedos.
Preferiu tomar a Dipirona.
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