domingo, 2 de dezembro de 2012
[historinha aleatória nº4]
Disse que iria para um show que rolaria num Rock Bar próximo e voltaria para casa, saindo de mais uma reunião com a banda. Fechou a porta atrás de si, dirigindo-se ao elevador mais próximo, descendo até o térreo e ganhando a rua. À essa altura, o relógio de seu celular já marcava 22:03 pm.
Pegou seu carro e saiu quase que em arrancada - achou que deveria ir logo para o mecânico, mas não encontrava sequer um tempinho. A essas horas as largas avenidas de Tokyo estavam tranquilas, nem lembravam aquela confusão de pessoas e poluição sonora em horário de pico.
Chegou no bar e já foi saindo do carro, entregando as chaves para o manobrista. Logo, já estava lá dentro, procurando uma mesa para se sentar e ver o show daquela noite. Ouviu dizer que era uma banda estrangeira que tinha uma vocalista. Era uma mulher. Atiçou sua curiosidade de alguma forma. Gostava de mulheres nos vocais de uma banda. Achava bonito e símbolo de atitude.
Esperou algumas horas e logo o show já começava. Entrou no palco os outros integrantes da banda e por último a tal vocalista. Tomou um gole de seu Wiskey e os olhos passaram a prestar atenção naquela moça.
Era uma mulher bonita, de traços bem ocidentais, a pele branca e os cabelos volumosamente encaracolados. Usava uma camiseta do Rancid customizada e surrada, shorts jeans rasgados quase na altura da virilha e coturnos negros. Sorria agradecendo aos presentes que ali estavam em inglês. Parecia um pouco tímida.
Logo ela já cantava com a fúria de sua voz feminina. Perguntava-se como ela conseguia alcançar uns agudos tão sincronizados com os riffs das guitarras em determinadas partes das músicas. Os cabelos dourados balançavam-se com seus movimentos contínuos e agressivos e o microfone em suas mãos parecia se tornar uma arma poderosa para ela.
O som era legal e ele acabou curtindo muito. Logo depois que a banda terminou de apresentar seu repertório, resolveu adentrar o backstage para conhecê-los pessoalmente. Melhor, conhecê-la pessoalmente.
Conseguiu esse feito graças aos responsáveis do lugar que já o conheciam há muito tempo. Já estava lá dentro quando a viu no meio dos rapazes, onde conversavam animadamente em inglês. Arriscando seu inglês fluente - porém precisando de melhoras, começou a cumprimentar o pessoal, alegando ser vocalista de uma banda também. A vocalista mesmo achando aquele inglês um pouco feio, acabou compreendendo e se interessou na conversa daquele homem que entrara.
- Excuse-me... What's your name? - Ela perguntou com um sorriso cativante e gentil.
- Akira - Ele respondeu sorrindo também. Era um sorriso tímido.
- Juliette. Nice to meet you!
Tão rápido foram os cumprimentos quanto a troca de ideias. Já estavam num sofá no camarim, conversando animadamente. Viram que possuiam os mesmos gostos, os mesmos sonhos, a mesma personalidade.
Ficaram amigos rapidamente. Juliette era uma moça simpática e espontânea, apesar de um pouco tímida talvez quando seus cachos caiam sobre seu rosto, ocultando seu olho esquerdo, como se quisesse se esconder daquele olhar intrigante que Akira tinha.
E ele voltou naquele barzinho mais vezes só para vê-la. De alguma forma aquela moça o encantou. Era diferente não só pela etnia, mas pela personalidade e pela sua encantadora voz. Principalmente. Desejava ouví-la mais vezes cantando com sua voz bonita e agressiva. Nas vezes em que descobria que ela não estaria lá, logo saia do local. Não interessava quando ela não estava lá.
Algo engraçado - e inusitado aconteceu. Um dia tomando um cappuccino numa cafeteria acabou encontrando-a por acaso, tomando café também e devorando um belo pedaço de bolo. Naquele dia estava com a voz um pouco rouca, devido ao frio na cidade e ao último show num outro bar local, em que estava usando roupas inadequadas para o clima. Akira sentou-se ao seu lado a convite dela e passaram a tomar café juntos. A partir daquele dia pasaram a tomar cafés (juntos) com mais frequência.
Cafés a parte, e lá estavam os dois passeando pelas ruas úmidas de Tokyo jogando conversa fora, inventando desculpas esfarrapadas para suas respectivas bandas, rindo, criticando vulgaridades e sibilando estrofes de músicas que curtiam. Estavam se gostando de alguma forma. Juliette ainda estava com sua voz rouca.
Outra vez se encontraram. Para conversarem sobre letras de músicas. Mas logo se esqueceram disso. Já estavam naquele mesmo café, conversando animadamente ainda, bebericando cafeína. Só que naquele dia foi diferente. Era o que faltava.
- Juliette-san... We could go to my apartment... What do you think?
Era um convite tendencioso, mas tentador. A moça havia gostado muito dele, então aproveitaria bastante seus dias naquela cidade. Aceitou o convite, meio receosa. Sua voz já melhorara um pouco.
- Yes...!
Seu apartamento era lindo, tinha que admitir. Seu pequeno apartamento em Seattle era uma casinha de boneca perto daquele lugar tão aconchegante. Disse que tinha invejinha dele. Akira riu. Ela falava coisas engraçadas. Ela era engraçada. Gostava de brincar com o fato dele ser um moço de baixa estatura e ela... 1,70 m de personalidade e bom humor. Claro, não havia maldade nas brincadeiras dela. Curtia homens mais baixos.
Akira perguntou-lhe se aceitava alguma bebida. Balançou a cabeça cheia de cachos positivamente enquanto brincava com seu cachorro. A moça perguntou-lhe o nome do bichinho. Yachi. Ela riu, achou o nome bem fofo. Disse que tinha um Rottweiler encantador chamado Ringo, alegando ser em homenagem ao baterista dos Beatles, sua banda preferida. Ele também riu. Logo encheu dois copos de Wiskey e ofereceu à Juliette, que deixou o pequeno cãozinho preguiçosamente deitado em seu colo enquanto sorvia um gole da forte bebida. Deu como arruinada sua abstinência temporária do alcool.
Akira fez-lhe um elogio, dizendo que ela era tão encantadora que até o cachorro havia gostado dela. Mais uma vez ela solta aquela risadinha tímida, gostosa de ouvir. Começaram a conversar sobre um assunto aleatório enquanto bebiam. Falaram sobre as chuvas da cidade e ponto. O assunto morrera ali. Yachi dormiu em seu colo.
- Can I ask you something? - Ele perguntou. Juliette quis rir das suas bochechas levemente coradas.
- Sure! - Ela exclamou por fim.
Apesar do sorriso, Akira estava receoso. Mas acabou pedindo enfim.
- Can you…Sing for me...?
A moça o olhou surpresa. Pensou em recusar, afinal estava com a voz um pouco arranhada, e ele não iria gostar mesmo. Pensou nas piores desculpas que tinha em mente. Mas não conseguiu encontrar nenhuma que fosse bem convincente. Ainda arriscou, dizendo que sua voz não estava muito boa para cantar, mas ele não se importou com isso. Queria ouvir sua voz de qualquer forma.
Olhou para Akira e este a olhava pedinte. Por quê recusar? Ele era cantor também, se ela arranhasse a voz ele entenderia. Tentou ainda uma desculpa, dizendo que não sabia se conseguiria, e ele a incentivou, dizendo que Juliette era uma mulher poderosa e que nem uma irritação na garganta poderia impedí-la. Sentiu o rapaz roçar os dedos em sua mão direita. Seu rosto ardeu consideravelmente.
- Please...
Ele insistia. E ela por fim, meio relutante, meio tímida, meio sei-lá-o-quê, acabou aceitando seu pedido. Pigarreou um pouco e soltou a voz, cantando uma música dos Beatles que gostava muito. Yesterday. Cantava devagar, crispando os dedos na barra de sua saia, um pouco nervosa. Sentia-se uma menina tímida de 14 anos novamente.
O moço ouvia-a atentamente, abaixando a cabeça e fechando os olhos, curtindo aquele tom de voz outrora violento e agora suave e gentil. Sua voz ainda estava um pouco rouca, mas bonita.
Ah, mas como ele estava adorando aquilo! Juliette, surpresa com tamanha atenção de seu novo amigo, resolveu agradecê-lo da melhor forma. Aproveitou-se da distração dele e aproximou-se devagar, de modo que seus lábios ficassem próximos ao seu ouvido esquerdo. Agora a moça cantava somente para ele, criando um universo particular só para eles. Akira logo ergueu a cabeça lentamente e seus olhos se encontraram. Juliette continuava a cantar, a música estava quase no fim. Não sabiam se eram os efeitos do Wiskey que tomaram mas uma vontade estranha lhes veio a tona. Era estranho mas... Por quê não?
Então ele aproximou-se devagar de seu rosto, fazendo com que suas respirações se misturassem uma com a outra. Juliette e Akira nem perceberam direito quando seus lábios se uniram num beijo, um leve roçar de lábios. A língua dele então pediu passagem para dentro dos lábios convidativos, iniciando um beijo verdadeiro. Ambas as línguas brincavam uma com a outra numa sincronia única. A moça passou a acariciar sua nuca com a mão, enquanto ele enterrava a mão direita em seus cabelos e a mão esquerda procurava apalpar alguma parte deleitável do corpo dela. Suspirou quanto sentiu um leve aperto nas coxas. Yachi rapidamente pulou de seu colo.
Separaram-se bruscamente com o susto que o cachorro lhes dera. Ficaram uns segundos em silêncio e começaram a rir. Possivelmente de todo aquele clima imediato. Akira pediu desculpas em seguida, ela também e... Voltaram a se beijar ardentemente.
Sua voz rouca passou a entonar suspiros e gemidos deliciosos horas depois.
sábado, 1 de dezembro de 2012
Só mais um sonho romanticamente estranho.
Ontem, sonhei que fazia um bolo de chocolate pra ele.
Foi um sonho meio esquisito. Acho que desde o momento em que eu me vi apaixonada por ele eu não paro de ter sonhos graciosamente estranhos em que ele era o protagonista. É tão peculiar. É tão peculiar se ver gostando de um cara que está tão perto mas tão longe de você.
Sonhei que estava numa cozinha grande e muito bonita, com ele ao meu lado. Conversávamos sobre não-sei-o-quê, enquanto eu mexia e remexia a massa do bolo numa tigela. Ele simplesmente me olhava. Me olhava tanto que me deixava zonza até. E muito de repente o bolo já estava no forno. Não sei qual modelo.
Só sei que muito de repente também eu já estava colocando o bolo pra ele à mesma, toda feliz, com ele sorrindo pra mim. Depois nos beijamos por longos minutos antes de devorarmos o bolo. Lembro até da cara que ele fazia enquanto me observava comendo o bolo. Eu parecia uma criança, com os cantos da boca sujos de chocolate. fazendo graça, tudo muito engraçado. Aí acordei no momento em que eu ria de alguma coisa que ele tinha feito.
É isso. A carência nos deixa assim.
É isso. A carência nos deixa assim.
quarta-feira, 28 de novembro de 2012
Um flerte e olhos puxados.
Foi comprar um livro novo que há algum tempo precisava
lê-lo, mas sempre adiava sua ida à livraria, alegando falta de tempo ou pura
preguiça. Era uma tarde fria em São Paulo.
Saiu de casa devidamente agasalhada, um pouco incomodada com
o cachecol velho que pinicava seu pescoço ou com os cabelos encaracolados, que
o vento batia e bagunçava-os. Assim mesmo, foi caminhando pelas ruas, vendo
pessoas aleatórias, os bons vizinhos e o garoto de dezesseis anos de idade que
há algum tempo paquerava-a com olhares desejosos e “bom dias” cheios de
empolgação e segundas intenções. Ela tinha vinte e dois anos.
Seu nome era Eliza. Nome igual ao da avó materna. Trabalhava como estagiária numa empresa, mas estava de
férias na ocasião, o que ela achava muito bom, pois estava cheia daquele lugar e pensava na possibilidade de pedir demissão quando voltasse. Cabelos
encaracolados num castanho-escuro enjoativo, olhos pequenos, maçãs bonitas e
lábios modestos. Não se achava bonita, apesar de ouvir uns e outros elogios
aqui e ali, mas achava que as pessoas nunca eram sinceras com ela.
Morava sozinha num apartamento na Santa Cecília, desde os dezenove
anos, quando passou a cursar a faculdade. Sentia-se um pouco sozinha, mesmo com
a presença de sua gatinha de estimação, a Raimunda, uma gata siamesa que apenas
ronronava e deitava em seu colo toda hora quando via tevê. Não tinha namorado,
e nem tinha interesse em ter um. Os homens eram todos uns idiotas. Não era
muito boa em relacionamentos, nem chegou a ter muitos garotos em sua vida.
Logo, perdera sua virgindade aos vinte anos.
Depois de ter tropeçado em uma pedra na calçada e soltado um
palavrão mentalmente, chegou à tranquila livraria. Sentia-se bem naquele lugar
tão aconchegante e cheio de livros e CD’s gostosos de ler e ouvir. Entrou e
logo avistou a prateleira onde estavam os livros de seu interesse. Ela gostava
de ler. Era seu passatempo preferido. Preferia mil vezes ler um livro a sentar
numa sala de cinema cheia de gente fútil e desnecessária.
Achou um romance sueco que lhe pareceu ser bem interessante
e o tirou da prateleira. Pegou também o outro livro que há tempos pensava em comprá-lo. Um livro
de auto-ajuda. Lia o pequeno resumo atrás do livro distraidamente, quando
sentiu algo esbarrando em seu ombro. Um pouco atordoada com a pancada, olhou
para trás e viu um rapaz lhe pedindo desculpas educadamente.
Ficou calada por alguns segundos, observando aquele moço que
acabara de esbarrar em seu ombro. Parecia ser um rapaz de sua altura. Os
cabelos lisos e negros e o rosto meio arredondado. Assemelhava-se a um
oriental. Quando o moço passou a olhá-la mais diretamente nos olhos, assumiu
uma feição meio tímida no rosto.
- Me desculpe... – Ele disse devagar.
Ela, já menos atordoada do que antes, sorriu pequeno.
- Tá tudo bem – Respondeu de um jeito extremante educado e
sereno – E você, está bem?
- Sim, estou. É que eu sou muito distraído... – Ele tentou
contornar a situação com um sorriso confortável nos lábios. Covinhas apareceram
em suas bochechas.
- Não... Eu é que sou – Eliza disse, ajustando o cachecol no
pescoço, com um sorriso mais confortável que o dele – Acontece com todo mundo
esse tipo de coisa... – Concluiu, fazendo com que ele se sentisse mais a
vontade e soltasse um risinho descontraído.
Para Eliza, falar com estranhos era algo incomum e perigoso.
Os estranhos, a seu ver, podiam ser pessoas extremamente sujas e mal
intencionadas, o que gerava a extrema desconfiança dela cada vez que alguém
completamente aleatório na multidão vinha falar com ela. Mas aquele moço
pareceu ser alguém a quem podia dar um voto de confiança. Ele era tão...
- Posso saber o seu some? – Ele de repente pergunta,
esboçando ainda um sorriso amável.
Um pouco hesitante, ela respondeu, olhando para um ponto
qualquer da livraria.
- Eliza. Liz. Sei lá, como quiser. E o seu?
- Felipe – Respondeu o rapaz, passando os dedos suavemente
nos cabelos, demonstrando timidez – Esse é meu nome brasileiro. Nasci no Japão na verdade, e meu nome é Kazumi.
- E posso te chamar de...
- Felipe mesmo – Ele completou a frase dela. Ela achou engraçado e
sorriu mais ainda.
- Prazer em conhecê-lo!
- O prazer é meu!
Lilly sentiu mais segurança. Além de simpático, era um moço
gentil e... Muito bonito. O amendoado dos seus olhos puxados era diferente, e
tinha umas feições tão leves no rosto que chegavam a ser infantis. Um japonês diferente, é isso, pensou
ela.
- Olha... Eu já vou indo. Eu
adoraria ficar mais um pouco e conversar com você, mas tenho coisas pra fazer,
me desculpe...
- Tudo bem. Nos vemos por aí então... Até logo – Despediu-se
ele, com o rosto levemente corado, talvez um pouco sem graça diante da forma
como ela o dispensou.
- Até logo – Finalizou ela, sentindo-se uma boba por ter
dispensado o rapaz de uma forma até um pouco seca e indiferente.
Foram se afastando um do outro, até ela esbarrar numa outra
pessoa. Uma mulher, de aparência madura, que a olhou com certa impaciência,
mesmo depois de Eliza ter se desculpado. Deu uma última olhadinha para trás,
para ver se ainda conseguia ter uma última lembrança do rapaz oriental, mas
parecia que ele não estava mais lá.
Pagou os livros e foi embora. Foi andando com a cabeça
fervilhando em pensamentos relacionados ao rapaz que acabara de conhecer. Era
um fato engraçado, porque nunca em sua vida flertara com homens em ambientes
diferenciados, como a livraria. E ele parecia ser um cara legal. E raramente
tinha essa opinião sobre os homens.
Chegou em casa e foi direto para o banheiro tomar um longo
banho quente. Depois foi à cozinha, onde preparou seu costumeiro chocolate
quente e comeu biscoitos no café da tarde, enquanto continuava a pensar naquele
rapaz.
domingo, 25 de novembro de 2012
Dores íntimas.
Mãe.
Quero que me perdoe por mais essa carta imbecil, mas gostaria de desabafar aqui, por palavras escritas, já que eu sou incapaz de falar tudo o que se passa comigo olhando nos seus olhos.
Tive uma briga horrível com o meu irmão hoje. Nunca tínhamos brigado tão feio como hoje. Trocamos palavrões e obscenidades, nos esmurramos e enforcamos um ao outro. Mas algo que ele me disse me afetou de verdade. Me machucou pra valer. Ele me chamou de lixo.
Me senti exatamente assim naquele momento. Um verdadeiro lixo. E chorei. Muito. E mesmo depois de nos abraçarmos e nos perdoarmos, isso ainda me afeta. Eu fui jogada ainda mais para baixo. Ainda me sinto um lixo. Mais do que eu já sou.
A psicóloga me disse que eu estava com início de depressão. Sim mãe, eu sou uma pessoa depressiva. Tenho certeza absoluta que você deve estar me achando uma boba ou uma tonta de estar falando isso. Ou que isso deve ser uma "chantagem emocional". Ou que estou me fazendo de coitadinha.
É que você não entende. Você não me entende. E acho que nunca vai conseguir me entender.
Sinto-me como se eu fosse uma pessoal avulsa nesse mundo. Avulsa e sem motivação.
Uma flor murcha e sem vida.
Vejo outras meninas por aí com a felicidade estampada em seus bonitos rostos. Minhas amigas, ah, às vezes chego até ter inveja delas, por serem bonitas, com seus namorados lindos, cheias de compromissos no dia-a-dia... Cheias de vida.
Elas são os belíssimos cisnes brancos, enquanto eu sou o patinho feio e desprezado.
Mas ao contrário do patinho feio, que no final se transforma num lindo cisne branco, continuarei o mesmo lixo de sempre. A magia não cairá sobre mim.
Eu nunca serei um cisne branco.
Eu sou uma pessoa fraca. Fraca e incapaz de encarar o mundo. O medo de ser desprezada e rejeitada por todos à minha volta me aflige. Me torna indefesa. Medo de que pisem em cima de mim e me desprezem.
Uma pessoa que cai e não tem força para se levantar. Um frágil cristal falso, que em qualquer queda se transforma em mil pedacinhos. Uma pessoa que se machuca muito fácil.
Não sou como as outras meninas, felizes e reluzentes.
Como você e meu pai sempre me dizem: "Está difícil para viver".
Então, se eu está tão difícil viver para mim, o que eu estou fazendo aqui? Por quê insisto em continuar aqui?
Por medo. Medo da morte. Sou movida pelo medo. Minha incapacidade e fragilidade me faz ter medo de muitas coisas.
São raras as vezes em que eu me sinto feliz. Naquele dia que fomos à praia, me senti tão feliz. Era como se aquela água do mar me lavasse a alma. Era como se me limpasse, me purificasse, me fizesse esquecer os problemas. E domingo passado então? Me senti tão viva, tão feliz. Esboçava mil sorrisos. E eram sorrisos sinceros, e não aqueles que escondem a minha tristeza, como costumo fazer.
Sorrisos para tentar agradar as pessoas. Para tentar ser legal com elas. Mas parece que quando tento ser legal com elas, passam a me ver como uma idiota, uma otária, fácil de ser manipulada. E não tenho uma personalidade forte o bastante para impor limites aos outros. Sou uma ignorante aqui dentro de casa, mas lá fora me sinto como um cachorrinho acanhado e medroso.
Eu sou uma idiota.
Por vezes eu pensei: por quê eu nasci? Qual é a minha missão aqui? Ah, como eu gostaria de conversar com Deus, e desabafar com Ele. Talvez Ele me entenderia, me acalentasse e me consolasse em seu colo divino, como um frágil e triste bebê...
Gostaria que Ele me socorresse.
Sei que aqui, dentro dessa casa, todo mundo me ama, mas parece que me sinto incapaz de amá-los da mesma maneira. Algo encolhe o meu coração. Algo me faz sentir ainda mais destruída. Desprezada. Esquecida.
E não sei dizer o que é.
14/03/09
Quero que me perdoe por mais essa carta imbecil, mas gostaria de desabafar aqui, por palavras escritas, já que eu sou incapaz de falar tudo o que se passa comigo olhando nos seus olhos.
Tive uma briga horrível com o meu irmão hoje. Nunca tínhamos brigado tão feio como hoje. Trocamos palavrões e obscenidades, nos esmurramos e enforcamos um ao outro. Mas algo que ele me disse me afetou de verdade. Me machucou pra valer. Ele me chamou de lixo.
Me senti exatamente assim naquele momento. Um verdadeiro lixo. E chorei. Muito. E mesmo depois de nos abraçarmos e nos perdoarmos, isso ainda me afeta. Eu fui jogada ainda mais para baixo. Ainda me sinto um lixo. Mais do que eu já sou.
A psicóloga me disse que eu estava com início de depressão. Sim mãe, eu sou uma pessoa depressiva. Tenho certeza absoluta que você deve estar me achando uma boba ou uma tonta de estar falando isso. Ou que isso deve ser uma "chantagem emocional". Ou que estou me fazendo de coitadinha.
É que você não entende. Você não me entende. E acho que nunca vai conseguir me entender.
Sinto-me como se eu fosse uma pessoal avulsa nesse mundo. Avulsa e sem motivação.
Uma flor murcha e sem vida.
Vejo outras meninas por aí com a felicidade estampada em seus bonitos rostos. Minhas amigas, ah, às vezes chego até ter inveja delas, por serem bonitas, com seus namorados lindos, cheias de compromissos no dia-a-dia... Cheias de vida.
Elas são os belíssimos cisnes brancos, enquanto eu sou o patinho feio e desprezado.
Mas ao contrário do patinho feio, que no final se transforma num lindo cisne branco, continuarei o mesmo lixo de sempre. A magia não cairá sobre mim.
Eu nunca serei um cisne branco.
Eu sou uma pessoa fraca. Fraca e incapaz de encarar o mundo. O medo de ser desprezada e rejeitada por todos à minha volta me aflige. Me torna indefesa. Medo de que pisem em cima de mim e me desprezem.
Uma pessoa que cai e não tem força para se levantar. Um frágil cristal falso, que em qualquer queda se transforma em mil pedacinhos. Uma pessoa que se machuca muito fácil.
Não sou como as outras meninas, felizes e reluzentes.
Como você e meu pai sempre me dizem: "Está difícil para viver".
Então, se eu está tão difícil viver para mim, o que eu estou fazendo aqui? Por quê insisto em continuar aqui?
Por medo. Medo da morte. Sou movida pelo medo. Minha incapacidade e fragilidade me faz ter medo de muitas coisas.
São raras as vezes em que eu me sinto feliz. Naquele dia que fomos à praia, me senti tão feliz. Era como se aquela água do mar me lavasse a alma. Era como se me limpasse, me purificasse, me fizesse esquecer os problemas. E domingo passado então? Me senti tão viva, tão feliz. Esboçava mil sorrisos. E eram sorrisos sinceros, e não aqueles que escondem a minha tristeza, como costumo fazer.
Sorrisos para tentar agradar as pessoas. Para tentar ser legal com elas. Mas parece que quando tento ser legal com elas, passam a me ver como uma idiota, uma otária, fácil de ser manipulada. E não tenho uma personalidade forte o bastante para impor limites aos outros. Sou uma ignorante aqui dentro de casa, mas lá fora me sinto como um cachorrinho acanhado e medroso.
Eu sou uma idiota.
Por vezes eu pensei: por quê eu nasci? Qual é a minha missão aqui? Ah, como eu gostaria de conversar com Deus, e desabafar com Ele. Talvez Ele me entenderia, me acalentasse e me consolasse em seu colo divino, como um frágil e triste bebê...
Gostaria que Ele me socorresse.
Sei que aqui, dentro dessa casa, todo mundo me ama, mas parece que me sinto incapaz de amá-los da mesma maneira. Algo encolhe o meu coração. Algo me faz sentir ainda mais destruída. Desprezada. Esquecida.
E não sei dizer o que é.
14/03/09
terça-feira, 13 de novembro de 2012
O novo título do blog.
Não tem um dia na minha vida que eu não deixe de pensar em preocupações.
Faz tempo que não ando com a cabeça limpa, livre de pensamentos e ansiedades, de medos e de rancores. Gostaria muito de saber como faço para melhorar isso, pra não acabar ficando maluca.
Minha auto-estima inexistente e paranóias persistentes não permitem que eu viva um dia sequer com a cabeça leve. Pelo contrário, os dias passam, algo não-bom acontece e minha cabeça dói.
Por isso eu sempre digo: se me dessem uma passagem só de ida pra Goiânia ou então pro litoral do Nordeste, eu iria sem pensar duas vezes. A poluição da cidade, a pressa, o ônibus lotado, o celular tocando, a arrogância alheia, o estresse... Acho que tudo isso anda me fazendo mal.
Não tenho mais paciência. Coisas que antigamente eu gostava de fazer, agora não me atraem. Coisas que eu sempre quis fazer na adolescência e tinha vontade de fazer, agora me dão fadiga só de pensar. Parece que sou uma idosa de 60 anos num corpo de uma moça de 21.
Estou mais amarga como nunca estive antes. Ou já estava, mas talvez eu não tenha me dado conta da gravidade da coisa. Arrependimentos, frustrações, coisas-não-boas-que-sempre-acontecem.
Gente que tenta, tenta, tenta mais do que pode, tenta me ajudar. Gente que dá os conselhos mais irrelevantes pra minha existência, gente que me elogia por puro sentimento de pena para com a minha pessoa, gente que nem quer mais saber.
Faz tempo que não ando com a cabeça limpa, livre de pensamentos e ansiedades, de medos e de rancores. Gostaria muito de saber como faço para melhorar isso, pra não acabar ficando maluca.
Minha auto-estima inexistente e paranóias persistentes não permitem que eu viva um dia sequer com a cabeça leve. Pelo contrário, os dias passam, algo não-bom acontece e minha cabeça dói.
Por isso eu sempre digo: se me dessem uma passagem só de ida pra Goiânia ou então pro litoral do Nordeste, eu iria sem pensar duas vezes. A poluição da cidade, a pressa, o ônibus lotado, o celular tocando, a arrogância alheia, o estresse... Acho que tudo isso anda me fazendo mal.
Não tenho mais paciência. Coisas que antigamente eu gostava de fazer, agora não me atraem. Coisas que eu sempre quis fazer na adolescência e tinha vontade de fazer, agora me dão fadiga só de pensar. Parece que sou uma idosa de 60 anos num corpo de uma moça de 21.
Estou mais amarga como nunca estive antes. Ou já estava, mas talvez eu não tenha me dado conta da gravidade da coisa. Arrependimentos, frustrações, coisas-não-boas-que-sempre-acontecem.
Gente que tenta, tenta, tenta mais do que pode, tenta me ajudar. Gente que dá os conselhos mais irrelevantes pra minha existência, gente que me elogia por puro sentimento de pena para com a minha pessoa, gente que nem quer mais saber.
domingo, 21 de outubro de 2012
Trabalho novo, quem curte?
Estamos em outubro. E nem contei as novidades.
Estou num trampo novo. Trabalho pra Jequiti (já podem rir!), telemarketing, atendendo as consultoras que querem ganhar $$$ pra pagarem de rycas no final do ano. É um trabalho tranquilo, não me estresso, as mulheres que ligam pra lá são bem educadas e tranquilas (já recebi elogios até...), etc etc. Mas mesmo gostando de trabalhar por lá, algumas coisas me irritam.
Pra começar, o ambiente. Vocês que reclamam dos seus empregos só por causa do chefe que é um cara bem mala, parem já. Talvez vocês nunca tenham trabalhado num metro quadrado com 55 mulheres. PUTA QUE PARIU, QUANTA BUCETA JUNTA. E acho que uma das piores coisas do mundo é trabalhar com mulheres.
Num lugar onde só tem mulher trabalhando junto com você, todo o cuidado é pouco. Você tem que usar uma armadura invisível contra fofocas e picuinhas durante todo o expediente. Ainda mais eu, que sou toda esquisita. Eu não duvido que as mulheres de lá pensam algo bem ruim sobre mim, mesmo sem eu fazer absolutamente nada.
E ainda mais com as mulheres de onde eu trabalho. A grande maioria esfrega a xavasca no baile funk, teve filhos na adolescência e fazem visitas semanais aos seus "maridos" nos presídios de São Paulo. Sério. Ouvi a história de uma, que engravidou de um malandrão aí, que largou o filho pra se meter no crime e hoje tá preso numa penitenciária aí da cidade.
Lá, só eu e mais duas meninas curtimos classic rock. E nós três temos certeza absoluta de que aquelas moças devem nos odiar.
Ah sim, o chefe. O cara parece o Neil Young com 23 anos de idade, mas é beeeem malinha. O cara não fala nada sobre o sistema que cai com frequência e sobre os lanches que fazem duas ou três garotas por semana irem parar no hospital com gastrite ou intoxicação alimentar, mas enche o saco quando passam num corredorzinho que fica atrás dele, onde fica a mesa dele. Aí você tem que dar um belo dum rolê pra ir ao banheiro. Eu costumo detestar as pessoas por pouca coisa. E eu já detesto esse cara.
De resto, muita coisa ainda não mudou.
Um dia minha mãe me perguntou se eu estava feliz. Respondi que não. "A felicidade não se consegue num estalar de dedos", eu disse.
Estou num trampo novo. Trabalho pra Jequiti (já podem rir!), telemarketing, atendendo as consultoras que querem ganhar $$$ pra pagarem de rycas no final do ano. É um trabalho tranquilo, não me estresso, as mulheres que ligam pra lá são bem educadas e tranquilas (já recebi elogios até...), etc etc. Mas mesmo gostando de trabalhar por lá, algumas coisas me irritam.
Pra começar, o ambiente. Vocês que reclamam dos seus empregos só por causa do chefe que é um cara bem mala, parem já. Talvez vocês nunca tenham trabalhado num metro quadrado com 55 mulheres. PUTA QUE PARIU, QUANTA BUCETA JUNTA. E acho que uma das piores coisas do mundo é trabalhar com mulheres.
Num lugar onde só tem mulher trabalhando junto com você, todo o cuidado é pouco. Você tem que usar uma armadura invisível contra fofocas e picuinhas durante todo o expediente. Ainda mais eu, que sou toda esquisita. Eu não duvido que as mulheres de lá pensam algo bem ruim sobre mim, mesmo sem eu fazer absolutamente nada.
E ainda mais com as mulheres de onde eu trabalho. A grande maioria esfrega a xavasca no baile funk, teve filhos na adolescência e fazem visitas semanais aos seus "maridos" nos presídios de São Paulo. Sério. Ouvi a história de uma, que engravidou de um malandrão aí, que largou o filho pra se meter no crime e hoje tá preso numa penitenciária aí da cidade.
Lá, só eu e mais duas meninas curtimos classic rock. E nós três temos certeza absoluta de que aquelas moças devem nos odiar.
Ah sim, o chefe. O cara parece o Neil Young com 23 anos de idade, mas é beeeem malinha. O cara não fala nada sobre o sistema que cai com frequência e sobre os lanches que fazem duas ou três garotas por semana irem parar no hospital com gastrite ou intoxicação alimentar, mas enche o saco quando passam num corredorzinho que fica atrás dele, onde fica a mesa dele. Aí você tem que dar um belo dum rolê pra ir ao banheiro. Eu costumo detestar as pessoas por pouca coisa. E eu já detesto esse cara.
De resto, muita coisa ainda não mudou.
Um dia minha mãe me perguntou se eu estava feliz. Respondi que não. "A felicidade não se consegue num estalar de dedos", eu disse.
terça-feira, 4 de setembro de 2012
Voltando.
Passei um tempo sem postar nenhum texto por aqui. Preguiça, galere. ;)
Mas também porque minha mente anda enevoada de problemas, pensamentos e catástrofes psicológicas da qual eu já cansei de relatar por aqui. E acredito que vocês já estejam de saco cheio de ler sobre os meus problemas.
Mas dane-se. Falar com a minha mãe não adianta mais.
Eu costumo achar que o mês de agosto é uma merda, um desgosto mesmo, como todo mundo diz. Minhas brigas comigo mesma continuam intensas e confusas, nunca sei o que fazer, me sinto cada vez mais inútil e meu sono anda mais pesado do que o normal. Estou tomando anti-concepcionais para regular os hormônios, que andam bem bagunçados. Eu me sentiria mais legal se eu os estivesse tomando depois de uma boa transa. Mas minha vida sexual é como a minha felicidade: inexistente.
Mas pelo menos tenho uma boa notícia pra contar: consegui um emprego!
Ok, ok. Telemarketing, de novo. Mas é só pra bancar a faculdade e pra ver se consigo tomar algum rumo diferente na vida. Porque não dá mais pra viver nesse poço tão fundo e tão escuro. E tenho pânico do escuro.
Sobre o tratamento psicológico... Uma hora eu desisto de vez.
Enfim, eu espero que dessa vez as coisas se movimentem. Tá uma merda viver com dor de cabeça em frente ao computador, vendo gente idiota escancarando sua falsa felicidade no Facebook, postando status recheados de #partiu, fotos do Instagram, maquiagem e LP's. Eu espero ter meu $ logo, pra poder futuramente sair de casa, espairecer definitivamente, ter mais independência e, principalmente, para cuidar de mim.
Porque tá na hora de pensar um pouco em mim.
Mas também porque minha mente anda enevoada de problemas, pensamentos e catástrofes psicológicas da qual eu já cansei de relatar por aqui. E acredito que vocês já estejam de saco cheio de ler sobre os meus problemas.
Mas dane-se. Falar com a minha mãe não adianta mais.
Eu costumo achar que o mês de agosto é uma merda, um desgosto mesmo, como todo mundo diz. Minhas brigas comigo mesma continuam intensas e confusas, nunca sei o que fazer, me sinto cada vez mais inútil e meu sono anda mais pesado do que o normal. Estou tomando anti-concepcionais para regular os hormônios, que andam bem bagunçados. Eu me sentiria mais legal se eu os estivesse tomando depois de uma boa transa. Mas minha vida sexual é como a minha felicidade: inexistente.
Mas pelo menos tenho uma boa notícia pra contar: consegui um emprego!
Ok, ok. Telemarketing, de novo. Mas é só pra bancar a faculdade e pra ver se consigo tomar algum rumo diferente na vida. Porque não dá mais pra viver nesse poço tão fundo e tão escuro. E tenho pânico do escuro.
Sobre o tratamento psicológico... Uma hora eu desisto de vez.
Enfim, eu espero que dessa vez as coisas se movimentem. Tá uma merda viver com dor de cabeça em frente ao computador, vendo gente idiota escancarando sua falsa felicidade no Facebook, postando status recheados de #partiu, fotos do Instagram, maquiagem e LP's. Eu espero ter meu $ logo, pra poder futuramente sair de casa, espairecer definitivamente, ter mais independência e, principalmente, para cuidar de mim.
Porque tá na hora de pensar um pouco em mim.
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