quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Um flerte e olhos puxados.


Foi comprar um livro novo que há algum tempo precisava lê-lo, mas sempre adiava sua ida à livraria, alegando falta de tempo ou pura preguiça. Era uma tarde fria em São Paulo. Saiu de casa devidamente agasalhada, um pouco incomodada com o cachecol velho que pinicava seu pescoço ou com os cabelos encaracolados, que o vento batia e bagunçava-os. Assim mesmo, foi caminhando pelas ruas, vendo pessoas aleatórias, os bons vizinhos e o garoto de dezesseis anos de idade que há algum tempo paquerava-a com olhares desejosos e “bom dias” cheios de empolgação e segundas intenções. Ela tinha vinte e dois anos.

Seu nome era Eliza. Nome igual ao da avó materna. Trabalhava como estagiária numa empresa, mas estava de férias na ocasião, o que ela achava muito bom, pois estava cheia daquele lugar e pensava na possibilidade de pedir demissão quando voltasse. Cabelos encaracolados num castanho-escuro enjoativo, olhos pequenos, maçãs bonitas e lábios modestos. Não se achava bonita, apesar de ouvir uns e outros elogios aqui e ali, mas achava que as pessoas nunca eram sinceras com ela.

Morava sozinha num apartamento na Santa Cecília, desde os dezenove anos, quando passou a cursar a faculdade. Sentia-se um pouco sozinha, mesmo com a presença de sua gatinha de estimação, a Raimunda, uma gata siamesa que apenas ronronava e deitava em seu colo toda hora quando via tevê. Não tinha namorado, e nem tinha interesse em ter um. Os homens eram todos uns idiotas. Não era muito boa em relacionamentos, nem chegou a ter muitos garotos em sua vida. Logo, perdera sua virgindade aos vinte anos.

Depois de ter tropeçado em uma pedra na calçada e soltado um palavrão mentalmente, chegou à tranquila livraria. Sentia-se bem naquele lugar tão aconchegante e cheio de livros e CD’s gostosos de ler e ouvir. Entrou e logo avistou a prateleira onde estavam os livros de seu interesse. Ela gostava de ler. Era seu passatempo preferido. Preferia mil vezes ler um livro a sentar numa sala de cinema cheia de gente fútil e desnecessária.

Achou um romance sueco que lhe pareceu ser bem interessante e o tirou da prateleira. Pegou também o outro livro que há tempos pensava em comprá-lo. Um livro de auto-ajuda. Lia o pequeno resumo atrás do livro distraidamente, quando sentiu algo esbarrando em seu ombro. Um pouco atordoada com a pancada, olhou para trás e viu um rapaz lhe pedindo desculpas educadamente.

Ficou calada por alguns segundos, observando aquele moço que acabara de esbarrar em seu ombro. Parecia ser um rapaz de sua altura. Os cabelos lisos e negros e o rosto meio arredondado. Assemelhava-se a um oriental. Quando o moço passou a olhá-la mais diretamente nos olhos, assumiu uma feição meio tímida no rosto.

- Me desculpe... – Ele disse devagar.

Ela, já menos atordoada do que antes, sorriu pequeno.

- Tá tudo bem – Respondeu de um jeito extremante educado e sereno – E você, está bem?

- Sim, estou. É que eu sou muito distraído... – Ele tentou contornar a situação com um sorriso confortável nos lábios. Covinhas apareceram em suas bochechas.

- Não... Eu é que sou – Eliza disse, ajustando o cachecol no pescoço, com um sorriso mais confortável que o dele – Acontece com todo mundo esse tipo de coisa... – Concluiu, fazendo com que ele se sentisse mais a vontade e soltasse um risinho descontraído.

Para Eliza, falar com estranhos era algo incomum e perigoso. Os estranhos, a seu ver, podiam ser pessoas extremamente sujas e mal intencionadas, o que gerava a extrema desconfiança dela cada vez que alguém completamente aleatório na multidão vinha falar com ela. Mas aquele moço pareceu ser alguém a quem podia dar um voto de confiança. Ele era tão...

- Posso saber o seu some? – Ele de repente pergunta, esboçando ainda um sorriso amável.

Um pouco hesitante, ela respondeu, olhando para um ponto qualquer da livraria.

- Eliza. Liz. Sei lá, como quiser. E o seu?

- Felipe – Respondeu o rapaz, passando os dedos suavemente nos cabelos, demonstrando timidez – Esse é meu nome brasileiro. Nasci no Japão na verdade, e meu nome é Kazumi.

- E posso te chamar de...

- Felipe mesmo – Ele completou a frase dela. Ela achou engraçado e sorriu mais ainda.

- Prazer em conhecê-lo!

- O prazer é meu!

Lilly sentiu mais segurança. Além de simpático, era um moço gentil e... Muito bonito. O amendoado dos seus olhos puxados era diferente, e tinha umas feições tão leves no rosto que chegavam a ser infantis. Um japonês diferente, é isso, pensou ela.

- Olha... Eu já vou indo. Eu adoraria ficar mais um pouco e conversar com você, mas tenho coisas pra fazer, me desculpe...

- Tudo bem. Nos vemos por aí então... Até logo – Despediu-se ele, com o rosto levemente corado, talvez um pouco sem graça diante da forma como ela o dispensou.

- Até logo – Finalizou ela, sentindo-se uma boba por ter dispensado o rapaz de uma forma até um pouco seca e indiferente.

Foram se afastando um do outro, até ela esbarrar numa outra pessoa. Uma mulher, de aparência madura, que a olhou com certa impaciência, mesmo depois de Eliza ter se desculpado. Deu uma última olhadinha para trás, para ver se ainda conseguia ter uma última lembrança do rapaz oriental, mas parecia que ele não estava mais lá.

Pagou os livros e foi embora. Foi andando com a cabeça fervilhando em pensamentos relacionados ao rapaz que acabara de conhecer. Era um fato engraçado, porque nunca em sua vida flertara com homens em ambientes diferenciados, como a livraria. E ele parecia ser um cara legal. E raramente tinha essa opinião sobre os homens.

Chegou em casa e foi direto para o banheiro tomar um longo banho quente. Depois foi à cozinha, onde preparou seu costumeiro chocolate quente e comeu biscoitos no café da tarde, enquanto continuava a pensar naquele rapaz. 


domingo, 25 de novembro de 2012

Dores íntimas.

Mãe.

Quero que me perdoe por mais essa carta imbecil, mas gostaria de desabafar aqui, por palavras escritas, já que eu sou incapaz de falar tudo o que se passa comigo olhando nos seus olhos.

Tive uma briga horrível com o meu irmão hoje. Nunca tínhamos brigado tão feio como hoje. Trocamos palavrões e obscenidades, nos esmurramos e enforcamos um ao outro. Mas algo que ele me disse me afetou de verdade. Me machucou pra valer. Ele me chamou de lixo.

Me senti exatamente assim naquele momento. Um verdadeiro lixo. E chorei. Muito. E mesmo depois de nos abraçarmos e nos perdoarmos, isso ainda me afeta. Eu fui jogada ainda mais para baixo. Ainda me sinto um lixo. Mais do que eu já sou.

A psicóloga me disse que eu estava com início de depressão. Sim mãe, eu sou uma pessoa depressiva. Tenho certeza absoluta que você deve estar me achando uma boba ou uma tonta de estar falando isso. Ou que isso deve ser uma "chantagem emocional". Ou que estou me fazendo de coitadinha.

É que você não entende. Você não me entende. E acho que nunca vai conseguir me entender.
Sinto-me como se eu fosse uma pessoal avulsa nesse mundo. Avulsa e sem motivação.
Uma flor murcha e sem vida.

Vejo outras meninas por aí com a felicidade estampada em seus bonitos rostos. Minhas amigas, ah, às vezes chego até ter inveja delas, por serem bonitas, com seus namorados lindos, cheias de compromissos no dia-a-dia... Cheias de vida.

Elas são os belíssimos cisnes brancos, enquanto eu sou o patinho feio e desprezado.

Mas ao contrário do patinho feio, que no final se transforma num lindo cisne branco, continuarei o mesmo lixo de sempre. A magia não cairá sobre mim.

Eu nunca serei um cisne branco.

Eu sou uma pessoa fraca. Fraca e incapaz de encarar o mundo. O medo de ser desprezada e rejeitada por todos à minha volta me aflige. Me torna indefesa. Medo de que pisem em cima de mim e me desprezem.
Uma pessoa que cai e não tem força para se levantar. Um frágil cristal falso, que em qualquer queda se transforma em mil pedacinhos. Uma pessoa que se machuca muito fácil.

Não sou como as outras meninas, felizes e reluzentes.

Como você e meu pai sempre me dizem: "Está difícil para viver".

Então, se eu está tão difícil viver para mim, o que eu estou fazendo aqui? Por quê insisto em continuar aqui?

Por medo. Medo da morte. Sou movida pelo medo. Minha incapacidade e fragilidade me faz ter medo de muitas coisas.

São raras as vezes em que eu me sinto feliz. Naquele dia que fomos à praia, me senti tão feliz. Era como se aquela água do mar me lavasse a alma. Era como se me limpasse, me purificasse, me fizesse esquecer os problemas. E domingo passado então? Me senti tão viva, tão feliz. Esboçava mil sorrisos. E eram sorrisos sinceros, e não aqueles que escondem a minha tristeza, como costumo fazer.

Sorrisos para tentar agradar as pessoas. Para tentar ser legal com elas. Mas parece que quando tento ser legal com elas, passam a me ver como uma idiota, uma otária, fácil de ser manipulada. E não tenho uma personalidade forte o bastante para impor limites aos outros. Sou uma ignorante aqui dentro de casa, mas lá fora me sinto como um cachorrinho acanhado e medroso.

Eu sou uma idiota.

Por vezes eu pensei: por quê eu nasci? Qual é a minha missão aqui? Ah, como eu gostaria de conversar com Deus, e desabafar com Ele. Talvez Ele me entenderia, me acalentasse e me consolasse em seu colo divino, como um frágil e triste bebê...

Gostaria que Ele me socorresse.

Sei que aqui, dentro dessa casa, todo mundo me ama, mas parece que me sinto incapaz de amá-los da mesma maneira. Algo encolhe o meu coração. Algo me faz sentir ainda mais destruída. Desprezada. Esquecida.

E não sei dizer o que é.


14/03/09

terça-feira, 13 de novembro de 2012

O novo título do blog.

Não tem um dia na minha vida que eu não deixe de pensar em preocupações.

Faz tempo que não ando com a cabeça limpa, livre de pensamentos e ansiedades, de medos e de rancores. Gostaria muito de saber como faço para melhorar isso, pra não acabar ficando maluca.

Minha auto-estima inexistente e paranóias persistentes não permitem que eu viva um dia sequer com a cabeça leve. Pelo contrário, os dias passam, algo não-bom acontece e minha cabeça dói.

Por isso eu sempre digo: se me dessem uma passagem só de ida pra Goiânia ou então pro litoral do Nordeste, eu iria sem pensar duas vezes. A poluição da cidade, a pressa, o ônibus lotado, o celular tocando, a arrogância alheia, o estresse... Acho que tudo isso anda me fazendo mal.

Não tenho mais paciência. Coisas que antigamente eu gostava de fazer, agora não me atraem. Coisas que eu sempre quis fazer na adolescência e tinha vontade de fazer, agora me dão fadiga só de pensar. Parece que sou uma idosa de 60 anos num corpo de uma moça de 21.

Estou mais amarga como nunca estive antes. Ou já estava, mas talvez eu não tenha me dado conta da gravidade da coisa. Arrependimentos, frustrações, coisas-não-boas-que-sempre-acontecem.

Gente que tenta, tenta, tenta mais do que pode, tenta me ajudar. Gente que dá os conselhos mais irrelevantes pra minha existência, gente que me elogia por puro sentimento de pena para com a minha pessoa, gente que nem quer mais saber.